Berto "Grande"

Alberto Silva andou comigo na escola, no ciclo, talvez no restante liceu, na velha casa do Sá Carneiro, em Barcelinhos. Já era grande. Ficou o Berto “grande”. Devia ser o mais alto de entre todos os alunos da turma, seguramente dos mais altos da escola toda.
Cresceu até ao 1,95 m e enquanto foi atleta pesava 90 kg.
Porque era alto e forte foi para defesa central. Mas o seu primeiro destino era ser guarda-redes como o tio, guarda-redes do Gil Vicente, um outro tio, guarda-redes do Vitória de Guimarães e ainda um primo, Augusto Silva, que da baliza do Vitória de Guimarães chegou ao Benfica.
Começou a jogar no Gil com 15 anos, na época de 1972/73, nos juniores, porque o clube não tinha juvenis e no velho Adelino Ribeiro Novo jogou oito épocas consecutivas.
Tornou-se sénior pela mão de Joaquim Meirim que na altura integrou no plantel principal jogadores como Zé Manel (guarda-redes), Palheiras, Sineiro, Ruca, Fernandes, entre outros jovens da terra, numa prática pouco habitual, diz Berto Silva.
Saiu na época de 80/81 para o Famalicão. “Havia procura, tínhamos acabado de disputar a meia-final da Taça de Portugal com o Benfica”. Depois, foi jogar dois anos para o Recreio de Águeda, na primeira divisão, a que se seguiram mais dois anos no Tirsense e daí regressou ao Gil Vicente, onde jogou mais dois (85/86 e 86/87).
Foram dez anos a jogar no clube da terra que o viu nascer para a vida e para o futebol.
No final da carreira, como jogador passou ainda pelo Maia e o Esposende, terminando no Santa Maria na época de 1990/91.
Foi em Galegos Santa Maria que no ano seguinte se tornou treinador. Teve sucesso e por lá ficou 6 anos consecutivos.
Diz com orgulho que por onde passou também como treinador, deixou saudades e, assim, esteve 5 anos a treinar o Joane e 3 no Atlético de Valdevez.
Regressou ao Gil Vicente em 2011 para treinar os juniores e no ano seguinte ficou a coordenar o scouting, o departamento de observação do clube, onde ainda permanece até hoje.
A vida de Alberto Silva é o futebol desde que abandonou os bancos da escola. ”Jogar futebol não é trabalho, diz. Se toda a gente gostasse daquilo que faz, estava tudo bem… embora tivéssemos de trabalhar muito. Nos anos em que estive no Águeda com o Zé Carlos como treinador, treinávamos três vezes por dia. Não treinávamos bem, treinávamos muito! Hoje treina-se melhor”.
O primeiro treinador de Alberto Silva foi Armindo João, conhecido professor de educação física e treinador barcelense, colunista do Barcelos Popular. Rafael Silva, também ex-professor de educação física e ex-treinador, é lembrado como uma das pessoas que mais incentivava os miúdos desse tempo a jogar. “Nós na altura queríamos era jogar futebol”.
“O treinador que mais me marcou pela positiva foi Quinito, quando saí do Gil para o Famalicão e ele fez o primeiro ano como treinador. Ainda tenho tudo gravado na memória como se fosse ontem.” Vítor Oliveira, atual treinador do Gil, também foi seu treinador no início da sua carreira. Gaba-lhe a autenticidade.
Berto era o central de marcação. Fez dupla, em Barcelos, com o médico e também muitos anos jogador do Gil Vicente, Zé Albino (mais rápido do que ele), que fazia de libero, ou com Passos, que também jogou vários anos em Barcelos. Ainda jogou com Carlos Palheiras, que recorda como um jogador excecional com demasiada qualidade para jogar na defesa.
Começou a jogar com o número 3 na camisola, mas acabou com o 5 a partir de um jogo com o Salgueiros em que houve um erro no preenchimento da ficha do jogo.
Eram os avançados mais pequenos e rápidos que lhe causavam mais problemas. “Tinham que ser multados por excesso de velocidade”, diz com humor, quando tinha de recorrer à falta para os travar. Mas também recorda Reinaldo, jogador do Famalicão, que foi contratado pelo Benfica, Lula ou Marconi, como avançados muito difíceis de marcar.
Apesar de tudo, não teve nenhum castigo que o tirasse do relvado por muitos jogos. Eram sobretudo amarelos e duplos amarelos que o levaram a cumprir castigo fora das quatro linhas.
Em contrapartida, tirava proveito do seu porte para marcar golos de cabeça e sobretudo de livre direto, aproveitando a força e técnica de remate. Na última época, como jogador pelo Gil Vicente marcou nove golos, lembra.
“Tive duas lesões, numa tinha 18 anos e noutra tinha 21. Uma fratura de perónio e uma fissura na tíbia da perna direita que me fizeram parar três meses. Das duas vezes eram boas fases minhas em que estava a ser observado.”
O tempo em que foi jogador, diz, era muito diferente do de agora. Nessa altura os plantéis eram muito mais estáveis, mantinham-se por várias épocas com pequenas mudanças, o que fazia com que houvesse mais sentido de equipa, de coletivo, o que no futebol é apelidado de espírito de balneário.
O que fica na memória e nas fotografias são os campos cheios. “Havia muita gente a ir aos estádios. Era outro espetáculo. Havia boas equipas que jogavam bom futebol.”
A meia final da Taça de Portugal com o Braga, numa tarde de quarta-feira de chuva, com o campo Adelino Ribeiro Novo completamente cheio e o comércio na cidade fechado, uma semana depois em Braga, com o 1º de Maio repleto, é uma das grandes lembranças de Berto Silva.
“O que me deixa nostalgia - e eu não tenho saudades - é aquele balneário do Gil Vicente onde durante 7 ou 8 anos nos equipámos lado a lado: eu, o Russo, o Simões, o Ruca, o Fernandes, o Zé Albino, o Marconi… a “maltinha” do meu tempo. Já nos conhecíamos tão bem, éramos uma família, ficámos amigos para sempre.”

Mário Costa

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Barcelos, nos finais dos anos 30 do século XX, pela lente de Nicolás Muller

Marconi

Gonçalo Pereira